É com muita alegria que trouxemos para a comunidade acadêmica e a sociedade roraimense a Coleção Panton. “Panton” na língua Makuxi significa “história”. Essas histórias fazem parte do contexto das comunidades roraimenses, e hoje se encontram em algumas unidades de ensino em Boa Vista, em virtude de a coleção está disponível em e-book, gratuitamente, na Uerr Edições (clique aqui).
O trabalho de pesquisa iniciou em 2009, quando ministrei em comunidades indígenas a disciplina Literatura Infantojuvenil, do curso de Letras da Universidade Estadual de Roraima (UERR). Naquela época, para complementar o material didático desenvolvi o projeto “Cultura Indígena e Suas Narrativas Orais” com os acadêmicos da disciplina, para ampliar o universo pesquisado por aqueles que nos antecederam, com a finalidade de contribuir e revelar novos caminhos que ajudem no entendimento do universo mítico.
A experiência foi tão valiosa que a partir de então, ampliamos o olhar para textos orais indígenas na intenção de expandir o campo de reflexão e produção de conhecimento no que se refere às narrativas orais, buscando o fortalecimento do diálogo intercultural que possibilita tanto desenvolver a consciência da alteridade, quanto reconstruir a memória narrativa da sociedade indígena. Cada narrativa da Coleção Panton expressa um olhar sobre o mundo, sobre as vivências coletivas e sobre a realidade indígena.
O resultado dessa experiência foi um mestrado em 2011 pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), com a dissertação intitulada “Filigranas de Vozes: performance dos narradores e o jogo de significados nas narrativas orais indígenas da comunidade São Jorge – RR”, em que realizo uma análise morfológica a partir da teoria de Alan Dundes, e uma análise interpretativa das histórias A onça e o Jabuti, O Morcegão, A Comunidade do Barro e A Serra do Banco.
A partir desse contexto, surgiu a oportunidade de ampliar a experiência com os mitos indígenas por meio da pesquisa de doutorado intitulada “Iperu U’komanto: formas e sentidos no mito Makunaima”, em que faço uma análise do mito Iperu ‘Ukomanto (2019), que significa Árvore da Vida, a partir da Semiótica Francesa de Greimas.
Terminado o doutorado, o que me motivou a produzir a Coleção Panton foi a pouca visibilidade desse tipo de narrativa no cenário contemporâneo, inclusive, em Roraima, que tem a quinta maior população indígena do país. Tal constatação inquieta-nos porque tais mitos são vistos, muitas vezes, como “matéria-prima simples”, sem valor estético e literário, devido, principalmente, ao preconceito social com o gênero “mito indígena”.
Esse pensamento, contudo, não se justifica, visto que as narrativas míticas são estudadas fora do contexto cultural das comunidades e, no momento em que são retiradas desse contexto, ganham uma extensão do universo imaginário mais individual.
RESUMO DOS LIVROS:
1) Iperu U’komanto: Makunaima e seus irmãos viviam um período de escassez alimentar, por essa razão, eles saíram em busca de mantimento. Após uma longa caminhada, encontraram a árvore da vida que dá variados tipos de frutas. Os irmãos perceberam que para ter acesso às frutas precisavam derrubar a árvore. A árvore tinha o tronco muito grosso. Após várias machadadas a árvore caiu e do seu tronco saiu uma grande quantidade de água, resultando na formação de vários rios.
2) A Onça e o Jabuti: A onça vivia à procura do jabuti para comê-lo. Um certo dia ela avistou o jabuti debaixo da árvore. Rapidamente planejou atacá-lo. Mas, o jabuti esperto percebeu a intenção da onça. Foi então que o jabuti com a sua astúcia enganou a onça e ela acabou como refeição.
3) O Morcegão: Um bicho muito grande passou a levar as pessoas que viviam na comunidade. O pajé reuniu os membros para planejarem encontrar o animal. Fizeram um plano certeiro e descobriram onde o animal morava. Chegando lá encontraram muitas caveiras. De repente o bicho aparece e eles viram que era um morcego muito grande.
4) A Comunidade do Barro: Um povo vivia em um lugar onde tinha muito barro para fazer os artefatos, como prato, colher, caneca, panela, e outros objetos. Com o tempo, o barro ficou escasso e eles tiveram que procurar o material em outro local. Após dias andando encontraram um lugar que tinha muito barro na beira do rio. Depois de muitas conversas resolveram se mudar para o local Barro.
5) A Serra do Banco: O chefe resolveu casar a sua filha. Mas queria encontrar um pretendente forte e corajoso. Por isso fez um desafio na comunidade que era trazer um banco de pedra de uma serra que ficava distante para a comunidade. Muitos foram os pretendentes, mas somente um conseguiu finalizar o desafio, a rã-macho, que casou com a filha do chefe.
Texto: Profª. Drª. Maria Georgina dos Santos Pinho e Silva
Curso de Letras da UERR