Resquícios de artefatos coletados comprovariam existência de comunidade antiga
Fotos divulgação: Material coletado ficou sob a guarda da própria comunidade.
Três professores e um acadêmico do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Roraima, participaram no período de 12 a 19 de setembro, de uma expedição à região do Baixo Rio Branco com o objetivo de realizar pesquisas de reconhecimento e investigação de um sítio arqueológico encontrado por moradores da comunidade de Santa Maria Velha, na região sul de Santa Maria do Boiaçu, município de Rorainópolis. A equipe acredita que a presença da ‘terra preta de índio’, como são conhecidos os depósitos de solo altamente enriquecido de matéria orgânica no local, comprova a existência de uma comunidade de tamanho expressivo e que viveu ali durante muitas gerações.
De acordo com Giseli Deprá, coordenadora do curso, o trabalho permitiu o reconhecimento, registro e análise do patrimônio arqueológico encontrado na comunidade. “A intenção é reunir as informações adquiridas, os vestígios encontrados e relacioná-los a estudos sobre a Amazônia antiga (pré-colombiana) a fim de compreender o processo de ocupação humana naquela região”, explicou.
Ela também mencionou a importância dos resquícios de artefatos de cerâmica encontrados na região, que representam para o campo de história uma rica possibilidade de estudos. “A partir dessa experiência podemos pensar em futuras atividades que envolvam aulas práticas com outros professores e alunos do curso, visando contribuir com mais informações para enriquecer a formação dos alunos de História”, completou.
O professor André Augusto da Fonseca, relembra que o último esforço sistemático de pesquisa arqueológica desenvolvido no estado aconteceu na época do antigo Território de Roraima, e acredita que essa pesquisa no Baixo Rio Branco possa incentivar novos estudos na área. No material coletado nessa primeira etapa, ainda segundo o pesquisador, predomina a cerâmica policrômica, popularmente conhecida como “marajoara”, que se difundiu pela Amazônia Central no século XII, ou seja, há mais de 800 anos.
O professor José Victor Mattioni destacou a participação da comunidade durante os trabalhos de pesquisa, o que para ele revela o interesse pela preservação. “Ouvir os moradores de Santa Maria Velha sobre como eles descobriram as cerâmicas e outros objetos foi muito importante. Vale ressaltar que nenhum dos vestígios encontrados foram retirados da localidade, permanecendo sob a posse dos moradores”. Ele lembrou ainda que a equipe concorda com os moradores da região sobre a importância destes materiais permanecerem na localidade para evitar sua dispersão e a não-devolução destes vestígios para a comunidade.
Para o acadêmico Nadson Leitão essa foi uma experiência inesquecível. “Poder estar em contato com as culturas e fontes que só lemos nos livros ou vemos por imagens. Como acadêmico de História foi uma emoção ter contato direto com vestígios de outras populações anteriores a nossa”, comentou.
Os estilos das cerâmicas e da peça lítica (de pedra) encontradas são consistentes com as pesquisas realizadas em toda a Amazônia, que mostram a circulação de pessoas, ideias, valores, produtos e rituais na região, desde o século I, ao longo de rotas de longa distância. São estilos encontrados no Pará, Amazonas, Acre, e também Colômbia e Bolívia. Todos os objetos foram fotografados pela equipe e ficaram sob a guarda da Associação de Moradores, representada pelo senhor Antônio Batista dos Santos, conhecido na localidade por ‘Careca’. A partir de agora os pesquisadores devem produzir banners para a contextualização histórica da expedição, de maneira que os moradores possam organizar um pequeno museu local.