Coordenador do curso de História da UERR indica leitura sobre o tema
Efemérides como o Sete de Setembro servem também para refletir sobre processos históricos de longa duração. Eventos como a Proclamação da Independência em 1822, a abdicação e expulsão de Pedro I em 1831, a assinatura da Lei Áurea em 1888 ou o golpe que derrubou o império em 1889 não explicam nada: para entendermos esses acontecimentos, precisamos ir além da superfície do que é notícia. Essas datas são marcantes porque transformam estruturas de longa duração, como a escravidão ou o capitalismo.
O Sete de Setembro inicia um regime monárquico que era diferente do português, mas manteve a escravidão e a economia agroexportadora, do latifúndio, da monocultura, uma economia subalterna e dependente. Por isso, o atraso social, econômico, educacional e científico do Brasil ao longo do século XIX. Por outro lado, também começou o período de formação de uma identidade nacional, na literatura, na arte e na política. Mesmo assim, permanecemos, como país, como um arquipélago meio desintegrado de províncias, vilas e cidades, com o permanente terror da elite escravista por uma rebelião generalizada como a que se viu no Haiti.
Muitas publicações clássicas e recentes podem ser recomendadas. Claro que jornalistas como Laurentino Gomes e Eduardo Bueno produzem livros muito lidos e populares, mas eles mesmos beberam na fonte de historiadores e historiadoras. Temos a coleção organizada por Keila Grinberg e Ricardo Sales, Brasil Imperial (3 volumes), o Dicionário da Independência do Brasil que saiu pela Edusp no bicentenário, os trabalhos publicados por nossa professora da UERR, a Dra. Maria José dos Santos, sobre o rio Branco e Amazônia no século XIX, livros do José Murilo de Carvalho como A Construção da Ordem e Teatro de Sombras.
E, principalmente, os livros do consagrado historiador Sidney Chalhoub, como A força da escravidão: ilegalidade e costume no Brasil oitocentista, que, apoiado em forte documentação do Arquivo Nacional, ajuda a entender a sociedade brasileira atual mostrando que ao longo do império toda pessoa “de cor” (pretos, pardos, mulatos) eram considerados escravos até que se provasse o contrário, ou seja, além das dezenas de milhares de escravizados ilegalmente, mesmo os nascidos livres e alforriados estavam sempre sendo estigmatizados e com uma liberdade muito precária. O parlamento fez um enorme esforço para fingir que não via o tráfico ilegal e a população negra, a quem foi negada cidadania, ficava sujeita a truculência dos proprietários e autoridades policiais. O livro é escrito de forma brilhante e esclarece muito sobre nosso próprio país.
Prof. Dr. André Fonseca, coordenador do curso de História da UERR